sábado, 1 de fevereiro de 2014

Selos como sintoma: a economia e a geopolítica da Ditadura Militar depois da Crise do Petróleo (1974-85) – II/II

Paulo Avelino

paemail-snfce@yahoo.com.br

Neste último artigo desta série sobre os reflexos da economia e da geopolítica da Ditadura Militar nas emissões filatélicas, enfocamos agora o período de sua decadência, o longo governo do General Figueiredo (1979-1985).

Caracterizou-se por sua instabilidade macroeconômica, ou seja, pela subida acentuada dos níveis de preços e pela flutuação na taxa de crescimento econômico. E nele surgiram resultados de políticas do governo anterior, do General Geisel.

A Soja

O Japão obviamente não tem muito terreno para exploração agrícola. Para produzir proteína animal para sua população se alimentar, ou seja, para criar galinhas e gado, dependia da soja importada dos Estados Unidos e das anchovas pescadas ao largo da costa do Peru. Em meados dos anos 70 um fenômeno climático ligado ao El Niño (além da pesca predatória) diminuiu muito a pesca do peixe. Ao mesmo tempo, afetados pelo aumento nos preços do petróleo, os EUA incentivaram a produção de biocombustível para uso próprio e impuseram embargo às suas exportações de soja.

Sem saída, os japoneses se voltaram para o Brasil, e especificamente para o Cerrado brasileiro, até então relativamente pouco tocado. Ofereceram financiamentos não só para o plantio como para as pesquisas da Embrapa, para desenvolvimento de cultivares mais adaptados ao clima quente. O Presidente Geisel visitou o Japão durante as negociações.

A filatelia nacional marcou o esforço da Embrapa com o selo Soja Tropical (4/1983), dentro da série de três selos Conquistas da Pesquisa Agropecuária Brasileira.

Prioridade para a Agricultura

Logo em agosto de 1979 o ex-Ministro da Fazenda Delfim Netto voltou ao cargo, substituindo Mário Henrique Simonsen. O novo ministro estabeleceu a Prioridade para a Agricultura, tornada ponto focal da política do governo.
A série de três selos Desenvolvimento Agrícola (1/1981) mostra bem o que o governo desejava: Produtividade, Mercado Interno e Mercado Externo. Objetivos ambiciosos, que deixavam claro que, para os donos do poder, a produção agrícola aumentada poderia contribuir para reduzir a inflação (considerável) e para a melhora da situação do balanço de pagamentos (que se deteriorava).
Conclusão Geral
Com este terminamos uma série de cinco artigos sobre as repercussões das políticas da Ditadura Militar nos lançamentos de selos. Uma característica interessante é a transparência. Ou seja, é possível ter uma ideia das políticas de Estado analisando-se as emissões filatélicas no período.
O caráter validador e propagandístico de várias das emissões surge em seus temas: havia um esforço de passar uma ideia de legitimidade a um regime que se baseava, em última análise, em uma ilegalidade: a deposição de um Presidente.
As flutuações e mudanças de enfoque da política econômica, assim como os impactos internos de grandes acontecimentos globais, especificamente a Crise do Petróleo, podem ser lidas dentro da filatelia da época.
Os selos ilustram admiravelmente este período da História Nacional.

Bibliografia:

A agricultura familiar da soja na região sul e o monocultivo no Maranhão. Disponível em < http://www.fase.org.br/v2/admin/anexos/acervo/5_soja_regiao_sul_e_maranhao.pdf>. Acesso em 01 fev 2014.
FONSECA, Pedro Cezar Dutra e MOREIRA, Cássio Silva. O projeto do Governo Goulart e o II PND: um cotejo. Disponível em <http://www.ufrgs.br/decon/TD10_fonseca_moreira.pdf>. Acesso em 01 fev 2014.
O governo Figueiredo: o fim do desenvolvimentismo “à brasileira”. Disponível em <http://www.centrocelsofurtado.org.br/arquivos/image/201109011001560.MD4_0_179.pdf>. Acesso em 01 fev 2014.