domingo, 4 de agosto de 2013

Selos como sintoma: a economia e a geopolítica da Ditadura Militar antes da Crise do Petróleo (1964-74) – II

Paulo Avelino
paemail-snfce@yahoo.com.br

A Ditadura advinda do golpe militar destruiu a estrutura de poder político e econômico anterior – e ao mesmo tempo a conservou em grande parte. Neste artigo veremos a continuidade e a ruptura em ação no campo econômico – e sua repercussão na filatelia.

A Política de Substituição de Importações

Vimos em outro artigo deste blog as características da estratégia econômica do interregno democrático de 1946-64, chamada de Política de Substituição de Importações (PSI). A Ditadura manteve muitas delas - tanto características quanto limitações. Um dos 
dramas da PSI é que ela protegia indústrias de bens de consumo final. Ao fazê-lo, criava um setor industrial que, embora abastecesse com sucesso o mercado interno, não conseguia competir com outras empresas lá fora, ou seja, não conseguia exportar.

Isso gerava o paradoxo de um país em forte processo de industrialização que exportava fundamentalmente produtos primários, como se a indústria não existisse. Eram portanto importantes os esforços para promover a exportação de primários, em especial do café – pois os primários continuavam a ser o grande meio do país ganhar dólares. O selo Propaganda do Café do Brasil (12/1965) ilustra essa problemática.

A PSI tinha como uma de suas tarefas a superação de velhos gargalos que atrapalhavam o crescimento do setor privado industrial, entre eles o de transportes. Desde o interregno democrático os Correios emitiram selos celebrando obras que se propunham a superar esses gargalos. Isso continuou na Ditadura. O selo Inauguração do Novo Terminal de Minério de Turabão/ES (4/1966) marca o início dessa instalação da então estatal Companhia Vale do Rio Doce, destinada à exportação de um produto primário e consequente geração de divisas.

Nacionalização da Segurança

A Ditadura rompeu com políticas anteriores – ela não apenas as manteve. Uma das rupturas consiste no que Cervo e Bueno denominam Nacionalização da Segurança – a busca de  dominar tecnologias  que considerava importantes do ponto de vista militar.

Um desses ramos foi o da construção de aeronaves, o qual tivera seu início com a criação ainda em 1951 do Centro Tecnológico da Aeronáutica – CTA em São José dos Campos. Em 1969 o governo transferiu a tecnologia do CTA para a Empresa Brasileira de Aeronáutica – Embraer.

O selo Ano da Indústria Aeronáutica - Embraer - Avião Bandeirante (11/1969) ilustra tal momento. O poder ditatorial decretou até mesmo aquele ano como homenagem ao setor da indústria, sendo o conhecido avião nacional um dos feitos da área.

A política de nacionalização atingiu um de seus ápices com o lançamento de um avião militar, fato que é celebrado no selo 1º Voo do Xavante (9/1971), coroando o processo de desenvolvimento setorial.

A tecnologia aeronáutica pode ser considerada um elemento na estratégia geopolítica da ditadura. Outro fator seria a ocupação do espaço – a ser vista em artigo subsequente.

Bibliografia:

BECKER, Bertha, e EGLER, Claudio. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. 267p. p130-131.
CERVO, Amado Luiz, e BUENO, Clodoaldo. História da política exterior do Brasil. 3ª ed. ampliada. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2008. 559p. p404-405.




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